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Lux Ad Lucem

Blogue de opinião e divulgação.

Lux Ad Lucem

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30.Nov.08

Quando o luxo vem sem etiqueta...

 

 

O tipo desce na estação de metro  vestindo jeans, t-shirt e boné, encosta-se próximo à  entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora rush matinal.

Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos traseuntes, ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a 'bagatela' de 1000 dólares.

A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar rápido, copo de café na mão, telemóvel ao ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

Conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto.

Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de glamour.

Somente uma mulher reconheceu a música...
Recebido por mail
25.Nov.08

Fomos Muitos Milhares no Porto

 

 

Ao princípio da noite, depois de um dia de trabalho, teríamos preferido ir para casa, para junto da família, dos amigos, mas fomos à manifestação, por nós, pelos nossos alunos, pela qualidade do ensino na escola pública, pela dignificação da profissão que escolhemos.

 

Exigimos respeito, exigimos ser ouvidos, não aceitamos imposições. Não aceitamos o ECD que o Ministério impôs. Não aceitamos o seu indescritível modelo de avaliação!

 
Notícia Sic

 

 
Fne.tv
 
25.Nov.08

Constituição da República Portuguesa

 

Artigo 21.º
Direito de resistência
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.
 
Artigo 22.º
Responsabilidade das entidades públicas
O Estado e as demais entidades públicas são civilmente responsáveis, em forma solidária com os titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, por acções ou omissões praticadas no exercício das suas funções e por causa desse exercício, de que resulte violação dos direitos, liberdades e garantias ou prejuízo para outrem.
 
Artigo 37.º
Liberdade de expressão e informação

 1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.

 

2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.

 

3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.

 

4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos.

 
Artigo 45.º
Direito de reunião e de manifestação

1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização.

 

2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.

 
Artigo 48.º
Participação na vida pública

1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.

 

2. Todos os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos objectivamente sobre actos do Estado e demais entidades públicas e de ser informados pelo Governo e outras autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos.

CRP

 

25.Nov.08

Artigo 54.º do Regulamento Interno

 

Competências
Ao Coordenador de Departamento compete:
  • Presidir às reuniões de Departamento.

  • Representar o respectivo Departamento no Conselho Pedagógico, actuando como transmissor entre este órgão e o Departamento.

  • Coordenar a planificação das actividades pedagógicas e promover a troca de experiências e cooperação entre os professores do Departamento.

  • Colaborar com o Conselho Pedagógico na construção do Projecto Educativo da Escola.

  • Colaborar na inventariação das necessidades em equipamento e material didáctico e promover a interdisciplinaridade, assim como o intercâmbio de recursos pedagógicos e materiais dentro do Departamento.

  • Reunir e coordenar as actividades dos subcoordenadores de Departamento, quando existam.
25.Nov.08

Moção

 

Considerando:

1)
Que o processo de avaliação dos docentes, a que se refere o Decreto Regulamentar n.º 2/2008, se revela confuso, extremamente burocrático, polémico e de difícil operacionalização;

2)
Que o mesmo processo está a consumir excessivas energias da escola, desviando-a do seu objectivo primordial: o processo lectivo e a qualidade da preparação dos seus alunos;

3)
Que a classificação que o mesmo pode gerar será sempre questionável, até pelo simples facto de estar sujeita a quotas e não ser comparável entre escolas.

4)
Considerando, finalmente, que o referido processo está a merecer a contestação generalizada dos docentes por todo o país, como é público e notório, o que num Estado, que se quer de direito e democrático, deve merecer a reflexão de todos os cidadãos e dos seus responsáveis.

Os professores do Grupo de Economia e Contabilidade, código 430, da Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira, reunidos a 31 de Outubro de 2008 nas instalações da Escola, decidem:

1)
Apelar aos órgãos dirigentes da Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira para que se pronunciem pela suspensão do processo de avaliação regulamentado pelo DR. n.º2/2008;

2)
Apelar aos demais docentes da Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira para que também se pronunciem pela suspensão do processo referido.

3)
Tornar pública a sua posição, nomeadamente, com a publicação da moção no blog Lux Ad Lucem.

 

Espinho, 31 de Outubro de 2008

 

Os Professores

24.Nov.08

Los siete déficits mortales

 

23/11/08             Joseph Stiglitz

Cuando el president George W. Bush asumió el cargo, el grueso de los descontentos con unas elecciones robadas se consolaron con esta idea: dado nuestro sistema de controles y equilibrios políticos, ¿cuánto dañó puede hacer? Ahora lo sabemos: mucho más de lo que podían imaginar los peores pesimistas. Desde la guerra de Irak hasta el colapso de los mercados crediticios, las pérdidas financieras apenas resultan concebibles. Y detrás esas pérdidas aún hay que contar las oportunidades perdidas, todavía mayores.

 

Tomados de consuno los dineros despilfarrados en la guerra, los dineros despilfarrados en un esquema inmobiliario piramidal que empobreció a los más y enriqueció a unos pocos y los dineros que se esfumaron con la recesión, el hiato entre lo que podríamos haber producido y lo que realmente produjimos fácilmente rebasará el billón y medio de dólares. Piensen lo que habría podido hacerse con esa suma para proporcionar asistencia sanitaria a quienes carecen de seguro médico, para mejorar nuestro sistema educativo, para desarrollar tecnologías verdes… La lista es infinita.

 

Y el verdadero coste de las oportunidades perdidas es todavía mayor. Piensen en la guerra. Están, para empezar, los fondos directamente asignados a ella por el gobierno (unos 12 mil millones de dólares mensuales, y eso aceptando las estimaciones confundentes de la administración Bush). Pero es que son mucho mayores todavía, como ha documentado en su libro La guerra de los tres billones de dólares Linda Bilmes, de la Kennedy School, los costes indirectos: las remuneraciones que han dejado de ganar los heridos o los muertos o la actividad económica desplazada (de, pongamos por caso, gastar en hospitales norteamericanos a gastar en empresas nepalesas de seguridad). Esos factores sociales y macroeconómicos podrían llegar a montar más de 2 billones de dólares en el cómputo total de los costes de la guerra.

 

Pero hay un haz de luz en esos negros nubarrones. Si logramos zafarnos de la pesadumbre, si conseguimos pensar más cuidadosa y menos ideológicamente sobre la manera de robustecer nuestra economía y hacer de la nuestra una sociedad mejor, tal vez podamos adelantar algo en el planteamiento y solución de los enconados problemas que venimos arrastrando.

 

El déficit de valores.- Uno de los puntos fuertes de Norteamérica es su diversidad, y siempre ha habido una diversidad de puntos de vista incluso respecto de nuestros principios fundamentales (la presunción de inocencia, el mandato de habeas corpus, el imperio de la ley). Pero –o eso creíamos, al menos— quienes discrepaban de esos principios constituían una pequeña franja marginal, fácilmente ignorable. Ahora hemos aprendido que esa franja no es tan minúscula y que, entre sus miembros, se cuentan el actual presidente y los dirigentes de su partido. Y esa división en los valores no podía haber llegado en peor momento. Percatarse de que podríamos tener menos en común de lo que pensábamos puede dificultar la resolución de problemas que tenemos que encarar juntos.

 

El déficit climático.- Con ayuda de cómplices como ExxonMobil, Bush trató de persuadir a los norteamericanos de que el calentamiento global era una ficción. No lo es, y hasta la administración ha terminado por admitirlo. Pero no hicimos nada durante ocho años, y los EEUU contaminan más que nunca; un retraso que pagaremos carísimo.  

 

El déficit de igualdad.- En el pasado, aun si los que estaban abajo recibían pocos, si alguno, de los beneficios de la expansión económica, la vida se percibía como un sorteo equitativa. Las historias de quienes se hacían a sí mismos eran parte de las señas de identidad norteamericanas. Pero la vieja promesa de Horatio Alger suena hoy falsa. La movilidad ascendente se ha hecho cada vez más difícil. Las crecientes divisiones de ingreso y de riqueza han sido reforzadas por una legislación fiscal que premia a los afortunados en la azarienta lotería de la globalización. Destruida aquella percepción, será todavía más difícil encontrar una causa común.

 

El déficit de responsabilidad.- Los reyezuelos del mundo financiero estadounidense justificaban sus astronómicas remuneraciones apelando a su pretendido ingenio para generar grandes beneficios, supuestamente derramados sobre el país entero. Ahora, los reyes andan desnudos. No supieron gestionar el riesgo; antes bien, sus acciones exacerbaron el riesgo. El capital no fue correctamente asignado; se malgastaron centenares de miles de millones, un nivel de ineficiencia mucho mayor que el que la gente se ha acostumbrado a atribuir al Estado. Sin embargo, los reyezuelos se largaron con centenares de millones de dólares de los contribuyentes, de los trabajadores, y el conjunto de la economía tuvo que pagar la cuenta.

 

El déficit comercial.- En el curso de la pasada década, el país ha venido tomando préstamos a gran escala en el extranjero: sólo en 2007, unos 739 mil millones de dólares. No es difícil descubrir por qué: con un gobierno incurriendo en enormes deudas y unos hogares norteamericanos sin apenas capacidad de ahorro, no había otro sitio donde pedir. Los EEUU han estado viviendo de dinero y de tiempo prestados, y ha llegado la hora del vencimiento. Acostumbrábamos a dar lecciones de buena política económica a los demás. Ahora los demás se parten de risa a nuestras espaldas, y de cuando en cuando, hasta nos dan lecciones.  Hemos tenido que ir a mendigar a los fondos soberanos de riqueza (la riqueza excedente que otros gobiernos han acumulado y que pueden invertir fuera de sus fronteras). Retrocedemos ante la idea de que nuestro gobierno se haga con un banco, pero parecemos aceptar de grado la idea de que los gobiernos extranjeros puedan convertirse en accionistas de referencia de algunos de nuestros bancos más emblemáticos, instituciones cruciales para nuestra economía. (Tan cruciales, en efecto, que hemos dado un cheque en blanco a nuestro Tesoro para rescatarlas.)

 

El déficit fiscal.- Gracias, en parte, a un gasto militar desapoderado, en sólo ocho años nuestra deuda nacional se ha incrementado en dos tercios, pasando de 5,7 billones a más de 9,5 billones de dólares. Pero, por espectaculares que resulten, esos números subestiman por mucho las verdaderas dimensiones del problema. Aún tienen que presentarse a cobro muchas facturas de la Guerra de Irak, incluidas las que incorporan los costes de asistencia a los veteranos heridos, y esas facturas podrían representar unos 600 mil millones de dólares. El déficit federal de este año probablemente añadirá otro medio billón a la deuda nacional. Y todo eso, sin contar con los dineros desembolsados por la Seguridad Social y por Medicare para asistir a los baby boomers.

 

El déficit de inversión.- Las cuentas del Estado son distintas de las cuentas del sector privado. Una empresa que tome dinero prestado para realizar una buena inversión verá su balance contable mejorado, y sus ejecutivos serán aplaudidos. Pero en el sector público no hay balance contable, y por lo mismo, demasiada gente se centra miopemente en el déficit. En realidad, las inversiones públicas sabias proporcionan retornos mucho más elevados que la tasa de interés que el Estado paga por su deuda; a largo plazo, las inversiones ayudan a reducir los déficits. Recortar esas inversiones es proceder al modo del ahorrador de salvado y desperdiciador de harina, como pudo verse con los diques de Nueva Orleáns y con los puentes de Mineápolis.

 

***

Más allá de la simple incompetencia, hay dos posible hipótesis para explicar por qué los republicanos prestaron tan poca atención a la creciente debacle presupuestaria. La primera es, sencillamente, que confiaron en la teoría económica del lado de la oferta, en la creencia de que, de uno u otro modo, la economía crecería tanto con unos impuestos bajos, que los déficits serían efímeros. Esa idea se ha revelado como lo que es, una ilusión fantasiosa.

 

La segunda hipótesis es que, permitiendo un déficit cada vez más hinchado, Bush y sus aliados esperaban forzar una reducción del tamaño del Estado. Lo cierto es que la situación fiscal ha llegado a cobrar unas proporciones tan alarmantes, que muchos demócratas responsables están comenzando ahora a hacerles el juego a los republicanos empecinados en “asfixiar a la bestia pública”, y llaman a un drástico recorte del gasto público. Pero, preocupados como están los demócratas por parecer demasiado tibios en materia de seguridad –y por lo mismo, resueltos a considerar sacrosanto el presupuesto militar—, resulta harto difícil recortar gastos sin cercenar las inversiones más importantes para resolver la crisis.

 

La tarea más perentoria del nuevo presidente será restaurar el vigor de la economía. Dado el volumen de nuestra deuda nacional, es particularmente importante cumplir esa tarea de manera que se maximicen los resultados de cada dólar gastado, al tiempo que se ataca al menos uno de los déficits capitales. Los recortes fiscales funcionan –si funcionan— incrementando el consumo, pero el problema de Norteamérica es que padece un atracón de consumo; prolongar el atracón no hará sino posponer la solución de los problemas más profundos. A medida que los ingresos se desploman, los estados y los municipios tendrán que hacer frente a restricciones presupuestarias, y a menos que se haga algo, se verán obligados a recortar el gasto, lo que no hará sino ahondar en el declive. A nivel federal, necesitamos gastar más, no menos. Hay que reconfigurar la economía para adaptarse a las nuevas realidades (incluido el calentamiento global). Necesitaremos más trenes de alta velocidad y plantas energéticas más eficientes. Esos gastos estimulan la economía, al tiempo que sientan las bases para un crecimiento sostenible a largo plazo.

 

Sólo hay dos formas de financiar esas inversiones: aumentar los impuestos o recortar otros gastos. Los norteamericanos de ingresos altos pueden perfectamente permitirse pagar más impuestos, y muchos países europeos han triunfado, no a pesar de tener una fiscalidad elevada, sino precisamente por tenerla: es lo que les ha permitido invertir y competir en un mundo globalizado.

 

Huelga decir que habrá resistencia al aumento de impuestos, de manera que el foco de atención se moverá hacia los recortes. Pero nuestros gastos sociales son ya tan esqueléticos, que hay poco que ahorrar. En realidad, descollamos entre las naciones industrializadas avanzadas por lo inadecuado de nuestras protecciones sociales. Los problemas, por ejemplo, del sistema de asistencia sanitaria en los EEUU saltan a la vista: resolverlos no es sólo cuestión de mayor justicia social, sino también de mayor eficiencia económica. (Unos trabajadores más sanos son unos trabajadores más productivos.) Y eso deja sólo un área económica importante disponible para recortar gastos: la defensa. Nuestros gastos representan la mitad de los gastos militares mundiales, con un 42% de los dólares del contribuyente que se destinan, directa o indirectamente, a defensa. Incluso los gastos militares no bélicos se han disparado. Con tanto dinero gastado en armamento inútil contra enemigos que no existen hay mucho margen para incrementar la seguridad, al tiempo que se recortan los gastos en defensa.

 

La buena nueva en todo este horizonte de malas noticias económicas es que nos estamos viendo obligados a morigerar nuestro consumo material. Si lo hacemos de forma adecuada, eso ayudará a mitigar el calentamiento global, y acaso contribuirá también a despertar la consciencia de que un mayor nivel de vida también es más ocio, no sólo más bienes materiales.

 

Las leyes de la naturaleza y las leyes económicas son implacables, y no perdonan. Podemos abusar de nuestro medio ambiente, pero sólo por un tiempo. Podemos gastar por encima de nuestros medios, pero sólo por un tiempo. Podemos gorronear a cuenta de nuestras inversiones pasadas, pero sólo por un tiempo. Ni siquiera el país más rico del mundo puede ignorar las leyes de la naturaleza y las leyes económicas, si no es en daño propio.

Joseph Stiglitz es profesor en la Universidad de Columbia, ganador del Premio Nobel de Economía en 2001 y coautor de The Three Trillion dollar War.

Traducción para www.sinpermiso.info: Ricardo Timón

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Mother Jones, Noviembre/Diciembre 2008
 
22.Nov.08

Pobreza no Porto

 

 

A partir da semana que vem o Expresso vai publicar um conjunto de vídeos de gente com habitações degradadas ou sem um tecto onde se abrigar. Pessoas doentes sem ninguém que as cuide. Desempregados de longa duração sem perspectivas de futuro. Solidão mergulhada no mais profundo desespero. "Pobreza no Porto" é um trabalho sem vergonha de mostrar a vergonha. A vergonha que tem quem pede fiado na farmácia, quem não tem onde tomar banho, quem só consegue viver do Rendimento Social de Inserção, quem dorme no chão

Basta ligar a televisão, sintonizar a rádio, olhar para a manchete de um jornal. Nos últimos anos a pobreza tem-se agravado no mundo. Nos últimos meses, é actualidade diária em todos os órgãos de comunicação social de Portugal. São os combustíveis que aumentam, as pescas que estão em crise, os alimentos que escasseiam, a precariedade que se alastra, o desemprego que sobe, o nível de vida que nunca esteve tão baixo, a solidão que deprime, a fome, as doenças que se julgavam extintas que voltam aos hospitais, os novos e os velhos pobres.

Se para muitos, o aumento do custo dos alimentos significa comprar dois e não três pacotes de arroz, para outros, o mesmo aumento significa não comprar arroz. Se, para uns, a inflação não lhes permite umas férias folgadas, para outros, a inflação significa deixar de pagar rendas, significa pedir fiado na farmácia, comer um prato de sopa e ir dormir antes que a fome aperte.

De norte a sul do país multiplicam-se os casos de falta de solidez económica, de depressões associadas a fracas condições de vida, ao estilhaçar do trabalho, à inexistência de cuidados de saúde eficazes ou de medidas estruturais que combatam a pobreza.

É no distrito do Porto que a situação é mais grave. Numa área com cerca de 2,5 milhões de habitantes, há cerca de meio milhão de pessoas a viver na pobreza.

O Banco Alimentar Contra a Fome não consegue responder aos pedidos e tem mais de 100 instituições em lista de espera para receber alimentos. O desemprego aumenta, o Rendimento Social de Inserção aumenta, a falta de cuidados de saúde aumenta, o analfabetismo real ou funcional aumenta, a burocracia é difícil de contornar. Depois há as reformas baixas, a escolaridade reduzida, a exclusão familiar, a falta de equipamentos, a vergonha, a depressão. São avós, pais e filhos, famílias inteiras sem objectivos, sem futuro. Moram em bairros sociais, em ilhas, em pensões, em quartos, em tipologias demasiado apertadas ou mergulhadas na mais profunda solidão. Não se tipifica, antes se generaliza a pobreza que atravessa idades, bairros, lugares, que se prende com factores económicos e sociais que funcionam como âncoras que não se conseguem desprender.

Os últimos dados na União Europeia mostram que Portugal é um dos países com maior desigualdade social. No relatório social europeu, Portugal é apontado como o país mais desigual da Europa a 25. No relatório, o país tem 41% de desigualdade quando o ideal se situa nos 1%.

O Eurostat, que mede a desigualdade através da relação entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, coloca Portugal no fim da tabela europeia. O mesmo acontece entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres. Em Portugal, há um milhão de pessoas a viver com menos de dez euros por dia. Representa 9% da população nacional. Só no distrito do Porto, esse valor chega a meio milhão de pessoas.

Durante a pesquisa para esta série de pequenos documentários, fui a lugares onde morreu a esperança colectiva, onde há gente viva à beira da morte social. São casos escondidos atrás de muros, de janelas e portas fechadas, de portões ferrugentos, de bairros fechados sobre si mesmos. É gente que tropeçou no entulho e na desilusão, nas privações, perdas, angústias, na dolorosa mudança de hábitos. É gente que foi empurrada dos sonhos para o chão. São rostos que encaram a vida como um castigo, actores sociais despidos de sucesso material. São olhares cansados de tanta não sorte, porque não se pode falar de má sorte quando nunca se entendeu o significado da palavra.

Podia - e pode - acontecer a qualquer um de nós. Bastava-nos ter nascido ou crescido num ambiente desfavorável ou que, num determinado momento, a vida tivesse dado outras voltas. Por vezes, é um único acontecimento que desencadeia uma série de reacções que provocam uma drástica mudança de vida: um filho que se tornou toxicodependente, uma mãe que adoeceu, um pai que morreu, uma família analfabeta que nunca se preocupou ou teve condições para educar, um despedimento que se tornou crónico, uma depressão que nunca se tratou.

O que este trabalho pretende é apelar à reflexão sobre o mundo de hoje, sobre a sociedade em que vivemos, o modelo social em que nos inserimos. Se possível, pretende, ao alertar consciências, provocar mudança nas vidas destas pessoas.

Entre dezenas de possíveis personagens, escolhi algumas que simbolizam tudo isto. Chamam-se Ramiro e Rosa, Albino, Helena e Alexandre, Zulmira, Elísio, José Luís. Podiam-se chamar João, Pedro, Isabel ou Catarina. Ou Joaquim, Alice, Olinda, António, Pedro.

PERFIL  

 

Pobreza no Porto
 
 

Pedro Neves, nasceu em Leiria em 1977. Estudou no Porto, onde se licenciou em Ciências da Comunicação. Estagiou na Douro - Produções Artísticas, RTP e rádio Deutsche Welle, na Alemanha, antes de se tornar jornalista freelancer.

 

Desde 1999 que é colaborador do jornal Expresso, onde tem desenvolvido trabalhos de reportagem e diversas reportagens e curtas-metragens documentais para o site multimédia, bem como para a Única, Actual e 1º Caderno. Na Universidade do Porto, concluiu uma pós-graduação em Documentário (2002) e um mestrado em Cultura e Comunicação, variante Documentário, onde escreveu uma dissertação sobre o documentário dos anos da Revolução de Abril que aguarda publicação.

 

De 2003 a 2008 foi professor de rádio na Universidade Fernando Pessoa, no Porto. Em 2004 participou no Lisbon Docs com o projecto de documentário 2 Horas de Liberdade. É co-autor do livro infantil Uma Bola Sem Fronteiras (2004). Em 2007 frequentou um curso de realização de documentários na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San António de los Baños, Cuba.

 

Em 2007 realizou o seu primeiro documentário, intitulado a olhar o mar (Portugal), e que venceu o Prémio do Público do Festival de Cinema e Vídeo de Vancouver, Canadá. No mesmo ano, co-realizou a curta-metragem documental En la Barberia (Cuba), presente no em diversos festivais internacionais. Em 2008 fundou, com Carlos Ruiz, a empresa audiovisual Red Desert.

 

 

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