Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Lux Ad Lucem

Blogue de opinião e divulgação.

Lux Ad Lucem

Blogue de opinião e divulgação.

15.Abr.09

FMI, BM e a Ordem Económica Internacional

 

 

A cimeira do G20, em Londres, mostrou-se incapaz de aportar soluções inovadoras para a crise.

 

Antes ficou-se pela insistência na manutenção da actual ordem económica internacional e pelo reforço de velhas instituições que mais fazem parte do problema do que da solução.

 

Será difícil de convencer os povos de que o FMI e, até, o BM possam vir actuar agora em seu favor.

 
15.Abr.09

Rússia, o ensaio geral

 A guerra financeira contra a Islândia

 Como se pode esperar que a Islândia enfrente esta espécie de ambiente financeiro? Para obter uma perspectiva do que seria um futuro distópico, pode-se olhar para o ensaio geral das chamadas "reformas" financeiras executadas na década de 1990 na Rússia e em outros países pós soviéticos. Trata-se das reformas que os credores – incluindo os bancos europeus, lamento dizer – agora querem impor à Islândia. Na Rússia, as expectativas de vida declinaram drasticamente, ao passo que a saúde, prosperidade e esperança feneceram quando forças externas impuseram medidas de austeridade e altas taxas de juros. Os russos acordaram para descobrir que a devastação das reformas que lhes foram impingidas foram tão severas como as da Segundo Guerra Mundial com a redução da população, destruição da indústria, propagação de doenças e perda do controle da sua economia. Os padrões de vida afundaram, especialmente para aposentados, enquanto as perspectivas de emprego fecharam-se para a juventude. Muito do mesmo verificou por toda a antiga União Soviética.

Esta política permanece o "padrão" para países devedores: Venda de activos em troca de centavos de dólar a cleptocratas de todo o globo e liquidação de programas de bem-estar social exactamente no momento em que eles mais são precisos. Em contraste, olhe-se para os países que clamam mais ruidosamente para que a Islândia pague os empréstimos feitos pelos especuladores e arbitrageurs globais. Eles incluem os países mais amplamente devedores, encabeçados pelos Estados Unidos e a Grã-Bretanha, conduzidos por políticos que nunca sonharam em impor tais provações sobre si próprios. Enquanto cortam os seus próprios impostos e aumentam os seus próprios défices governamentais, estes países estão a tentar arrancar tributo financeiro dos países mais pequenos e mais fracos que puderem ameaçar, tal como fizeram com devedores do Terceiro Mundo nos anos 1980 e 1990.
 
 
14.Abr.09

Sem ajuda da UE ou da economia global

 

A guerra financeira contra a Islândia
 A União Europeia não está em posição de oferecer grande ajuda para a resolução dos problemas financeiros da Islândia. A integração do continente nos anos 1950 foi lançada por sociais-democratas e capitalistas pró industriais como Konrad Adenauer e Charles de Gaulle com a esperança de acabar para sempre com as guerras intestinas do continente. Eles tiveram êxito em formar o Mercado Comum de sete países em 1957. Mas a nova expansão europeia verificou-se em grande medida nos termos do sector financeiro. Esta é a fonte dos problemas que fracturam a "velha" e a "nova" Europa de hoje. É o contexto no qual o problema da dívida da Islândia está agora a ser terminado.

Parece bastante natural para as pessoas pagar dívidas que foram assumidas honestamente. A expectativa normal é de que as pessoas tomarão emprestado – e os bancos farão empréstimos – só para investimentos sadios, aqueles que são capazes de gerar um lucro permitindo ao devedor reembolsar o prestamista com juros. Foi assim que os bancos funcionaram durante muitos séculos – daí, a imagem dos banqueiros prudentes que dizem "não" a quaisquer negócios questionáveis que se lhes apresentem.

Pelo menos este era o modo antigo de fazer as coisas. Quase ninguém antevia um mundo no qual banqueiros criariam crédito irresponsavelmente, levando aos incumprimentos maciços a que assistimos hoje por todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, não menos de um terço das hipotecas habitacionais caíram num estado de Situação Líquida Negativa. Isto significa que a hipoteca excedeu o preço de mercado do imóvel comprometido como colateral. A dívida nacional dos EUA triplicou durante o ano passado, de US$5 milhões de milhões para US$15 milhões de milhões devido aos salvamentos financeiros incluindo a tomada pelo governo de US$5,2 milhões de milhões dos gigantes hipotecários, Fannie Mae e Freddie Mac. Uma única companhia de seguros, a AIG, foi designada para receber US$250 mil milhões de salvamento em dinheiro e um único banco, o Citibank, recebeu mais de US$70 mil milhões. As acções destes até então gigantes financeiros caíram para centavos apenas e o Congresso está agora a debater se finalmente irá nacionalizá-los e eliminar os seus accionistas e mesmos os possuidores dos seus títulos.

Na Grã-Bretanha verificou-se algo muito semelhante. Sentado no mês passado na sala de embarque do aeroporto Heathrow, assisti audiências na BBC em que membros do Parlamento exprimiam espanto pelo facto de os bancos mais seriamente afectados não serem dirigidos por banqueiros e sim por homens de marketing. A sua tarefa não era calcular empréstimos prudentes, mas vender tanto de dívida quanto possível, sem olhar para a capacidade do devedor de pagar. O resultado é que o Banco da Inglaterra – tal como o Tesouro dos EUA – está a imprimir novos títulos cujos encargos de juros terão de ser pagos por impostos a serem suportados pelo trabalho e pela indústria.
 
 

 

13.Abr.09

North Carolina Town Prints Own Currency to Support Local Business

 

We take a look at how one North Carolina town is trying to become more self-sufficient by moving toward being able to feed, fuel and finance itself. The town of Pittsboro houses the nation’s largest biodiesel cooperative, a food co-op, a farmers’ market and, most recently, its own currency, the Pittsboro Plenty. Pittsboro is one of a number of communities across the country printing their own money in an attempt to support local business.

April 09, 2009

Ante fenómenos destes é usual dizer-se: "Só na América". Mas neste caso não é assim. Tentativas para organizar a vida fora dos ditames habituais da organização económica vigente já se verificam em outros lugares, no caso que se apresenta, também na América, mas em outra, a do Sul.
 
13.Abr.09

O outro lado da discussão?

 A guerra financeira contra a Islândia

 Apesar de ter passado o último meio século concentrado a estudar os países com problemas de balança de pagamentos, mesmo eu acho chocante o singularmente auto-destrutivo regime financeiro da Islândia. Antes que rejeite a minha candura, devo apresentar um curriculum pessoal resumido para que entenda que as minhas conclusões são baseadas principalmente em ter sido um iniciado no jogo da pilhagem de países em estilo imperial durante quarenta anos. Nos meados da década de 1960 eu era o economista de balanças de pagamentos do Chase Manhattan Bank, a seguir da Arthur Anderson e posteriormente do United Nations Institute for Training and Research (UNITAR). Tenho ensinado teoria económica internacional em nível de graduação desde 1969 e agora dirijo um grupo internacional de história económica e financeira com base em Harvard. Em 1990, na Scudder Stevens and Clark, organizei o primeiro fundo de dívida soberana. Todos estes trabalhos envolveram analisar a limitada capacidade de países devedores para pagar – quando podia ser deles extraído através de empréstimos em divisas estrangeiros e quanta infraestrutura pública estava disponível para ser liquidada num processo voluntário de arrestos virtuais por países desejosos de se submeterem às regras ditadas pelo credor.

Escrevi primeiramente acerca do imperialismo monetário na década de 1970 no meu livro Super Imperialism. Ele deveria ter-se intitulado "Imperialismo monetário" porque pormenorizava como a substituição do ouro por papéis de dólar IOUs ( I owe you, notas de reconhecimento de dívida) no comércio e nos défices de balanças de pagamentos, em 1971, permitiu aos Estados Unidos explorarem o resto do mundo sem limites. Reduzindo gradualmente os pagamentos em ouro entre bancos centrais em favor de dinheiro fiduciário de papel permitiu ao Estados Unidos acumularem dívidas maciças iguais aos seus défices acumulados de pagamentos, muito além da sua capacidade de pagar. Os EUA actualmente devem mais de US$4 milhões de milhões (trillion), enquanto mantém um défice comercial crónico com enormes gastos militares além-mar, financiados inteiramente por outros países através dos seus bancos centrais. Isto é chamado eufemisticamente de "sistema monetário internacional".

Também fui conselheiro do governo canadiano na década de 1970. O meu principal trabalho foi escrever uma monografia a explicar porque os países não deveriam contrair empréstimos em divisas estrangeiras, mas deveriam sim monetizar o seu próprio crédito para gastos internos e investimento. Em anos recentes ensinei na Letónia e dei este mesmo conselho aos seus responsáveis. Apresento estes antecedentes porque têm óbvia relevância para a situação financeira da Islândia de hoje. Ela rompeu a regra essencial das finanças internacionais: Nunca assumir empréstimo numa divisa estrangeira para o crédito que se pode criar livremente no plano interno. Os governos podem expandir a sua saída da dívida interna – mas não da dívida externa. Isto constitui grande parte do problema agora enfrentado pela Islândia.

O ponto principal dos meus comentários centrar-se-á portanto na dimensão internacional do problema da dívida da Islândia, especialmente nas suas relações com a Europa. Assim, é relevante olhar para o que está a acontecer na "Europa expandida" de hoje. Como tem relatado a imprensa financeira, as economias pós-soviéticas depararam-se com resultados desastrosos depois de se terem movimentado na década passada para aderir à União Europeia. Os recentes tumultos de devedores, agricultores e membros de sindicatos desde os países bálticos até à Hungria são sintomáticos das profundas desgraças económicas que afligem estes países. Está a crescer o ressentimento de que ao invés de ajudá-los a industrializarem-se e tornarem-se mais eficientes, a Europa e o seu Tratado de Lisboa simplesmente transferiu o assunto para os seus banqueiros, os quais olham para estes países simplesmente como clientes de crédito a serem sobrecarregados com dívida – não para empréstimos para construir manufacturas e a infraestrutura urgentemente necessária a estes países, mas empréstimos principalmente contra o imobiliário existente e a infraestrutura colateral já no lugar. Isto é o caminho mais rápido para fazer dinheiro, afinal de contas – e as finanças tradicionalmente têm vivido no curto prazo.

Este problema era obrigado a levantar-se, dada a fé pós-industrial da Europa de que quaisquer aumentos de "riqueza" – mesmo pelo truque de inchar o imobiliário e os preços de outros activos – é tão produtivo como construir nova capacidade industrial e infraestrutura. O resultado desta ideologia foi um conjunto de bolhas económicas construídas sobre imobiliário financiado por dívidas e inflação do mercado de acções. Tais bolhas sempre explodem em algum momento. Só tardiamente os países estão a redescobrir o axioma clássico de que o único caminho para pagar importações numa base sustentável é produzir exportações.

Infelizmente, nem os bancos estrangeiros nem os conselheiros europeus estimularam isto. A sua política desindustrializou o países pós-soviéticos, os quais financiaram o aprofundamento dos défices comerciais contraindo empréstimos em divisas estrangeiras contra o seu património imobiliário. Os Estados bálticos tomaram empréstimos em euros, libras esterlinas e francos suíços, principalmente de bancos suecos, para financiar uma bolha imobiliária, ao passo que a Hungria e os seus vizinhos da Europa Central se endividaram pesadamente junto a bancos austríacos. As suas economias estão a contrair-se agora que o jogo de casino sobre a inflação dos preços dos activos explodiu. O rendimento locativo e portanto os preços da propriedade estão a afundar e as taxas de câmbio fazem o mesmo. Isto torna o custo de uma hipoteca em divisa estrangeira maior do que o rendimento da propriedade local. O resultado é o incumprimento generalizado de hipotecas, provocando perdas severas para bancos suecos e austríacos.

As dívidas podres do imobiliário também estão a destruir bancos nos dois principais países credores, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Os preços imobiliários, os preços das acções e o emprego estão indo abaixo numa linha recta sem precedentes mesmo na Grande Depressão dos anos 1930. Isto tornou um pesadelo o sonho financeiro neoliberal de "criar riqueza" pela inflação de preços de activos, através da criação de crédito, sem realmente aumentar a formação de capital tangível (salários e padrões de vida). Assim como indivíduos não podem viver de cartões de crédito para sempre, tão pouco os países o podem. Como sabe qualquer economista clássico, sociedades que apenas manufacturam dívida são insustentáveis. Os casinos podem ser lugares divertidos para visitar (os clientes pagam ao perderem o seu dinheiro), mas não lugares para viver. Isso também é verdade para as economias de casino.