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Lux Ad Lucem

Blogue de opinião e divulgação.

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20.Mar.08

Dar Voz à Poesia

Il Postino

 

 Maneira de bem sonhar

- Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje.

- Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.

- Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo e no mal estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros. Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com a perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o nascer até ao morrer, tu não ages: és agido; tu não vives: és vivido apenas.

Torna-te, para os outros, uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio.

E se alguém te disser que isto é falso e absurdo não o acredites. Mas não acredites também no que te digo, porque não se deve acreditar em nada.

- Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego
A proposta do Dr. José Neves
 
As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre
 

BUCÓLICA

A vida é feita de nadas:

De grandes serras paradas

À espera de movimento;

De searas onduladas

Pelo vento;

 

De casas de moradia

Caídas e com sinais

De ninhos que outrora havia

Nos beirais;

 

De poeira;

De sombra de uma figueira;

De ver esta maravilha:

Meu Pai a erguer uma videira

Como uma mãe que faz a trança à filha.
 Miguel Torga
A proposta da Dr.ª Margarida Lima
 

Cem alívios

Apeteceu-lhe a felicidade,

apeteceu-lhe a verdade,

apeteceu-lhe a eternidade,

olhem-no!

 

Mal distinguiu sonho e realidade,

mal se deu conta de que ele é ele,

mal lhe rompeu em mão a antiga barbatana – fuzil e foguetão,

fácil de afogar numa colher de oceano,

pouco risível até para alegrar o vazio,

só com os olhos vê,

só com os olhos ouve,

o seu recorde na fala é o modo condicional,

persegue a consciência com a consciência

numa palavra: ninguém quase.

Mas na cabeça a liberdade, a omnisciência e o ser

para lá da carne insensata,

olhem-no!

 

Porque decerto ele está,

aconteceu na realidade

guiado por uma estrela de província

Vivo à sua maneira e por inteiro movente.

Para degenerescência do cristal –

bastante seriamente surpreendido

Para tão difícil infância nas privações do rebanho

nem tão mau detalhe assim

Olhem-no!

 

Só um pouco mais à frente, ao menos um segundo,

um revérbero que seja da mais ínfima galáxia!

Que por fim e por alto se revele

quem será, uma vez que está,

E está – obstinado.

Obstinado e muito, reconheçamos.

Com esta bolinha no nariz, esta toga, esta camisa.

Cem alívios, seja como for.

Pobrezito,

Um homem verdadeiro.

Wislawa Szymborrska ( Paisagem com Grão de Areia)

 
 

Silêncio

Assim como no fundo da música

brota uma nota

que enquanto vibra cresce e se adelgaça

até que noutra música emudece,

brota do fundo do silêncio

outro silêncio, aguda torre, espada

e sobe e cresce e nos suspende

e enquanto sobe caem

recordações, esperanças,

as pequenas mentiras e as grandes,

e queremos gritar e na garganta

o grito se desvanece:

desembocamos no silêncio

onde os silêncios emudecem.

Octávio Paz ( Liberdade sob Palavra)

A proposta de Dr.ª Isabel Regina

 
 
URGENTEMENTE

É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.

 

É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.

 

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searras,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

 

Cai o silêncio nos ombros e a luz

impura até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer.

Eugénio de Andrade

A proposta da Dr.ª Fernanda Coimbra

 
 
Pátria
Por um país de pedra e vento duro

Por um país de luz perfeita e clara

Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência

Que a miséria longamente desenhou

Rente aos ossos com toda a exatidão

Dum longo relatório irrecusável



E pelos rostos iguais ao sol e ao vento



E pela limpidez das tão amadas

Palavras sempre ditas com paixão

Pela cor e pelo peso das palavras

Pelo concreto silêncio limpo das palavras

Donde se erguem as coisas nomeadas

Pela nudez das palavras deslumbradas



— Pedra rio vento casa 

Pranto dia canto alento 

Espaço raiz e água 

Ó minha pátria e meu centro



Eu minha vida daria

E vivo neste tormento
 
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen

 A proposta do Dr. Albertino Pinto

 
A propósito do Dia Mundia da Poesia
16.Mar.08

Livro de reclamações

O que é e para que serve?


O livro de reclamações é um dos meios mais práticos e comuns para o consumidor apresentar queixa. Quando algo não corre bem na prestação de um serviço ou na compra de um produto, o consumidor pode solicitar este livro e reclamar logo nesse local, sem nenhum encargo.

Mesmo que a entidade a quem a queixa é enviada já não possa solucionar o problema, esta forma de reclamar pode ajudar a evitar que outros cidadãos sejam prejudicados pelas mesmas razões.

Como funciona?


A reclamação é registada no livro em triplicado. O responsável do estabelecimento entrega ao cliente o duplicado da queixa e tem cinco dias úteis para enviar a sua cópia à entidade competente para a apreciar. O consumidor pode proceder também ao envio da queixa para aquela entidade, para se assegurar de que esta chega ao destino Uma terceira cópia da reclamação permanece no livro, não podendo dele ser retirada.

Depois de analisar o que foi escrito, o organismo competente decide se deve ou não penalizar o estabelecimento ou instituição. Se os dados não forem suficientes para avançar com o processo de contra-ordenação, o estabelecimento tem um prazo de 10 dias para apresentar alegações em sua defesa.

Como preencher a reclamação?


Para que tudo corra bem, convém preencher com cuidado. Há algumas regras que não pode esquecer quando tiver o livro nas suas mãos.

Use sempre uma esferográfica (para que a queixa não possa ser apagada) e escreva de forma legível. Se achar necessário, faça um rascunho numa folha à parte, para que a reclamação final seja o mais concisa e objectiva possível.

Depois de indicar qual o estabelecimento ou serviço em causa (nome e morada), identifique-se correctamente (com o seu nome, morada e número de bilhete de identidade ou de passaporte) e refira os motivos que conduziram à reclamação, bem como a data e a hora em que fez a queixa.

Guarde toda a documentação que comprove o objecto da reclamação (tais como facturas, contratos, brochuras, fotografias, etc.), bem como a cópia da queixa a que tem direito. Procure também obter o testemunho de quem possa comprovar aquilo que alega.

Quando algo corre mal


Sempre que o livro de reclamações lhe seja solicitado, o proprietário do estabelecimento não pode exigir a apresentação de qualquer documento de identificação como condição para o apresentar. Se o acesso ao livro lhe for negado pode chamar a polícia, para tentar resolver a situação. Depois, numa segunda fase, até pode dirigir duas reclamações escritas à entidade que tutela a actividade ou serviço: a primeira, pelo facto que originou o pedido do livro de reclamações; e a segunda, pela recusa em facultarem-lho.

Se a instituição ou entidade prestadora de bem ou serviço não cumprir as regras relativas ao livro de reclamações, pode incorrer na prática de contra-ordenações. No caso das empresas, a coima pode, em algumas situações, ir até 30 mil euros.

À vista de todos


 A afixação da frase “ Neste estabelecimento existe livro de Reclamações “ em local visível é obrigatória em todos os estabelecimentos com livro de reclamações. O nome do organismo competente para apreciar a queixa tem também de ser incluído no cartaz


Até agora, o livro de reclamações estava à disposição, entre outros, nos seguintes estabelecimentos:

Empreendimentos turísticos, restaurantes e bares, agências de viagens, turismo rural, espaços de jogo e lazer, campos de férias e termas;

Escolas e centros de exames de condução e centros de inspecção automóvel;

Clínicas, laboratórios, hospitais e centros de reabilitação privados;

Mediadoras imobiliárias e agências funerárias;

Instituições privadas de solidariedade social e serviços de apoio social e domiciliário.

Desde 2006, entre outros, também passam a ser obrigados a ter livro de reclamações:

Jardins de infância e creches, centros de actividades de tempos livres,  lares e instituições com acordos de cooperação com os centros distritais de segurança social (como cantinas sociais, por exemplo);

Cabeleireiros, institutos de beleza, estabelecimentos de tatuagens e colocação de pírcingues e ginásios;

Prestadores de serviços de transporte, telefone, água, gás, electricidade, acesso à Internet e correios;

Lojas de venda a retalho e estabelecimentos de comercialização ou reparação de automóveis;

Postos de abastecimento de combustíveis, parques de estacionamento;

Farmácias, lavandarias e engomadorias;

Recintos de espectáculos;

Seguradoras, mediadores e corretores de seguros, instituições de crédito e estabelecimentos do ensino particular e cooperativo.

 
A propósito do Dia Mundial do Consumidor

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