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Il Postino |
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Maneira de bem sonhar |
- Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje. - Nunca penses no que vais fazer. Não o faças. - Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo e no mal estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros. Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com a perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o nascer até ao morrer, tu não ages: és agido; tu não vives: és vivido apenas. Torna-te, para os outros, uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio. E se alguém te disser que isto é falso e absurdo não o acredites. Mas não acredites também no que te digo, porque não se deve acreditar em nada. |
Bernardo Soares in Livro do Desassossego |
A proposta do Dr. José Neves |
As mãos |
Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. E cravam-se no Tempo como farpas De mãos é cada flor cada cidade. |
Manuel Alegre |
BUCÓLICA
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A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha. |
Miguel Torga |
A proposta da Dr.ª Margarida Lima |
Cem alívios |
Apeteceu-lhe a felicidade, apeteceu-lhe a verdade, apeteceu-lhe a eternidade, olhem-no! Mal distinguiu sonho e realidade, mal se deu conta de que ele é ele, mal lhe rompeu em mão a antiga barbatana – fuzil e foguetão, fácil de afogar numa colher de oceano, pouco risível até para alegrar o vazio, só com os olhos vê, só com os olhos ouve, o seu recorde na fala é o modo condicional, persegue a consciência com a consciência numa palavra: ninguém quase. Mas na cabeça a liberdade, a omnisciência e o ser para lá da carne insensata, olhem-no! Porque decerto ele está, aconteceu na realidade guiado por uma estrela de província Vivo à sua maneira e por inteiro movente. Para degenerescência do cristal – bastante seriamente surpreendido Para tão difícil infância nas privações do rebanho nem tão mau detalhe assim Olhem-no! Só um pouco mais à frente, ao menos um segundo, um revérbero que seja da mais ínfima galáxia! Que por fim e por alto se revele quem será, uma vez que está, E está – obstinado. Obstinado e muito, reconheçamos. Com esta bolinha no nariz, esta toga, esta camisa. Cem alívios, seja como for. Pobrezito, Um homem verdadeiro. |
Wislawa Szymborrska ( Paisagem com Grão de Areia) |
Silêncio |
Assim como no fundo da música brota uma nota que enquanto vibra cresce e se adelgaça até que noutra música emudece, brota do fundo do silêncio outro silêncio, aguda torre, espada e sobe e cresce e nos suspende e enquanto sobe caem recordações, esperanças, as pequenas mentiras e as grandes, e queremos gritar e na garganta o grito se desvanece: desembocamos no silêncio onde os silêncios emudecem. |
Octávio Paz ( Liberdade sob Palavra) |
A proposta de Dr.ª Isabel Regina |
URGENTEMENTE
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É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searras, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz impura até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer. |
Eugénio de Andrade |
A proposta da Dr.ª Fernanda Coimbra |
Pátria |
Por um país de pedra e vento duro Por um país de luz perfeita e clara Pelo negro da terra e pelo branco do muro Pelos rostos de silêncio e de paciência Que a miséria longamente desenhou Rente aos ossos com toda a exatidão Dum longo relatório irrecusável E pelos rostos iguais ao sol e ao vento E pela limpidez das tão amadas Palavras sempre ditas com paixão Pela cor e pelo peso das palavras Pelo concreto silêncio limpo das palavras Donde se erguem as coisas nomeadas Pela nudez das palavras deslumbradas — Pedra rio vento casa Pranto dia canto alento Espaço raiz e água Ó minha pátria e meu centro Eu minha vida daria E vivo neste tormento |
Porque |
Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. |
Sophia de Mello Breyner Andresen |
A proposta do Dr. Albertino Pinto |
A propósito do Dia Mundia da Poesia |
Concentração e manifestação dos professores do norte na Marcha da Indignação |
Lisboestas manifestam a sua solidariedade à marcha da Indignação das professoras e professores portugueses |
Aspecto da concentração dos docentes do norte |