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Lux Ad Lucem

Blogue de opinião e divulgação.

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28.Jun.09

O bombeiro

 

domingo, 28 de Junho de 2009

Quando, depois do PREC, o dr. Mário Soares "meteu o socialismo na gabeta", de facto não meteu lá nada, porque o PS não era e nunca tinha sido socialista.

 

Apesar do programa e da retórica da clandestinidade e da "revolução", o PS nasceu já como um partido do capitalismo ou, se preferirem, como um partido de uma sociedade livre, com uma economia de mercado.

 

O que, de resto, em 1974-75 o tornou o grande instrumento de resistência ao comunismo e à extrema-esquerda.

 

A verdadeira vocação do PS foi desde o princípio defender a democracia (ocidental) e absorver as tensões que dentro dela eventualmente se gerassem.

 

Nem a apologia do Estado-Providência o distinguia, porque o Estado-Providência há muito tempo que na Europa inteira se tornara património comum da esquerda e da direita.

 

Desde 1976 - com uma única excepção - que a história do PS é em Portugal a história do bombeiro.

 

Com Mário Soares chegou sempre ao poder em épocas de crise económica (e de intervenção do FMI) para impor uma política de "austeridade".

 

Da primeira vez, sozinho. Da segunda, com o PSD, no "Bloco Central". Só durante o instável e precário governo de Guterres deu, tragicamente, um bodo aos pobres.

 

Mas nem nessa altura mostrou qualquer aspiração subversiva e agiu invariavelmente dentro dos limites do aceitável para a ortodoxia do que se veio a chamar "modelo europeu".

 

Tendeu talvez por ilusão ideológica e atavismo de escola para reforçar o papel do Estado e para aumentar o funcionalismo um pouco mais que o PSD. Nada de grave, de qualquer maneira.

 

Visto desta tradição, o PS de Sócrates não fez mais do que persistir num comportamento habitual.

 

Como a direita logo percebeu, o objectivo das "grandes reformas" de 2005 - 2006 (as que não acabaram mal) era assegurar a sobrevivência do regime e não com certeza promover a mais vaga espécie de igualdade ou sequer a eficácia e o alcance do Estado-Providência.

 

Não por acaso a viabilidade financeira (embora transitória) da Segurança Social e a redução do défice ocuparam o centro da acção e da propaganda do Governo.

 

Como, em menor grau, a tentativa de "rentabilizar" o ensino, a saúde e a justiça. Infelizmente agora, o tecto caiu. Ao contrário de Soares, Sócrates falhou. A direita não lhe agradece o esforço; e o eleitorado do PS desapareceu.

 

Em quatro anos quase toda a gente ficou pior. Para quê teimar?

Público
 
Uma opinião reveladora de um enorme cinismo e devastadora para o PS. Os que sempre acreditaram que esse partido era um defensor do socialismo devem sentir-se muito incomodados. Claro, que podem continuar sempre a recusar-se a acreditar.